Mons. Luigi Molinari
Esta pequena publicação contém a história de uma Medalha
prodigiosa que a Virgem Maria quis fazer dom aos filhos que são a alegria do
seu Coração porque A amam e vivem, na prática, a Consagração ao seu Imaculado
Coração.
Foi a Virgem Maria, em uma aparição a uma religiosa
clarissa, quem indicou o modelo e pediu para cunhar tal medalha. Isto aconteceu
muitos anos mais tarde porque satanás se opôs com todas as forças, prevendo que
o dom de Nossa Senhora faria grande bem às almas e promoveria a glória de Deus.
A religiosa escolhida pela Virgem Maria para esta importante
missão foi a Irmã Clara Scarabelli, nascida em um pequeno povoado de Genepreto,
província de Piacenza, Itália, em 29 de março de 1912 e falecida no dia 29 de
janeiro de 1994, após viver 63 anos na clausura.
O inesquecível cardeal Silvio Oddi escreveu a respeito
dela: "Madre Clara, da Ordem das Clarissas é, sem dúvida, uma alma
privilegiada que, correspondendo à superabundante graça divina e guiada pela
mão da Virgem Maria, a quem confidencialmente ela chama de "Mãe" e,
segundo minha convicção pessoal, alcançou o cume da santidade".
Fazemos votos de que a heroicidade
de suas virtudes seja, um dia, proclamada pela autoridade da Igreja. No momento
estamos recolhendo depoimentos que possibilitem sua causa de beatificação.
Que ela mesma nos conte a história do dom que a Mãe
Celeste quis conceder a todos os filhos que A amam e vivem a consagração ao seu
Imaculado Coração.
Mons. Luigi Molinari
Obrigado, Mãe, por este teu
dom de amor,
obrigado por teres
demonstrado que te agradou
a nossa Consagração ao teu
Imaculado Coração.
Não Te canses de pedir aos
homens
que confiem plenamente em
Ti;
aos teus consagrados queres
demonstrar
que permaneces perto deles,
abençoando‑os,
na certeza de que com tua
ajuda serão
para os outros, exemplo
luminoso.
Através deste dom
Queres demonstrar teu
apoio;
a nos compete viver,
autenticamente, a
Consagração que fizemos.
Sim, queremos fazer nossas
as palavras de Irmã Clara:
"Meu Pai, bondoso e
muito amado,
eis‑me inteiramente
tua
com infinita confiança,
porque és o meu Pai
infinitamente
misericordioso,
que me ama
apesar da minha pequenez e
do meu nada...
Estou no Coração de Maria,
tua Filha predileta,
Mãe de Jesus e também minha
Mãe...
Que Ela Te ame em mim,
comigo, por mim,
Assim seja".
Esta pequena publicação pretende tornar conhecido um
evento acontecido nos anos 1950‑1953, que permaneceu no silêncio durante
quase quarenta anos, mas, finalmente, como a Santíssima Virgem havia prometido
à Vidente, tornou‑se de domínio publico, hà dez anos.
Motiva‑nos, o desejo de cumprir um pedido da
Santíssima Virgem, de torna‑lo conhecido em larga escala, embora de modo
sintético, dado sua importância verdadeiramente relevante, já que o maligno
tudo tem feito para impedir‑lhe a difusão como veremos mais adiante.
A protagonista deste acontecimento é uma monja
clarissa, Irmã Clara Scarabelli, nascida no dia 29 de março de 1912, em
Genepreto, pequeno povoado no vale do rio Tidone, em Piacenza, Itália, e
falecida no dia 29 de janeiro de 1994 no novo Mosteiro, inaugurado poucos meses
antes de sua morte, na localidade de São Silvestre de Curtatone (Mântua).
Irmã Clara viveu, durante quase sessenta anos, no
Mosteiro de Santa Clara, na Praça Roma em Veneza onde aconteceram os fatos
extraordinários narrados neste opúsculo. (1)
Esta humilde clarissa escondeu no ordinário o
extraordinário e revestiu de normalidade a heroicidade, a tal ponto de nem as
co-irmãs, com as quais conviveu por mais de sessenta e dois anos, suspeitarem
de que nela acontecia algo diferente.
Até agora não conseguem compreender como, naquela
irmã, que parecia igual a elas em tudo, se ocultasse um mistério de graça
excepcional.
Para compreender tudo isso, é necessário levar em
conta a expressão com que Ir. Clara concluía suas oferendas mais heróicas: "Que ninguém saiba... Percebido somente por Ti e
pela Mãe". (2)
Em 1950, enquanto estava em adoração noturna, (o que
praticou cada noite por mais de sessenta anos, das 23:00 às 02:00), a Virgem
Maria, aparecendo‑lhe, confiou‑lhe uma missão, cuja historia
resumimos neste opúsculo, servindo‑nos da narração que ela mesma
escreveu, a pedido do Sacerdote que acompanhou seu caminho espiritual no ultimo
período de sua vida.
Essa experiência mística está relacionada com o pedido
feito pela Virgem Maria à Igreja nas aparições de Fátima, de consagrar o gênero
humano ao seu Imaculado Coração.
Maria escolheu para essa missão um instrumento que foi
também modelo vivo de consagração mariana.
A relação desta humilde clarissa com a Virgem Maria
que ela, com simplicidade, chamava "a
Mãe", foi de tal intensidade e
riqueza, que dificilmente poder-se‑ia imaginar algo mais profundo.
É difícil sintetizar neste pequeno trabalho uma
existência aberta incondicionalmente à acolhida de Maria como mãe e, em cujo
Coração fez sua estável morada, desde os primeiros anos de sua adolescência.
Para Ir. Clara, "estar no Coração da Mãe" significava viver única e exclusivamente do que havia
naquele Coração.
De Maria encarnou, em sua existência, a fé, o
abandono, a docilidade a vontade de Deus, etc.
O Papa Paulo VI afirma na Marialis Cultus: "Tudo, na Virgem Maria, está relacionado com
Cristo e tudo depende d'Ele..." (cf. n. 25).
Esta afirmação encontra admirável correspondência na
experiência de Ir. Clara, que em Maria e por Maria relaciona‑se com Jesus
de maneira inacreditável.
Embora ame Jesus apaixonadamente, existe em seu
coração o que ela chama de "martírio
do amor", um fogo que lhe queima por
dentro e a faz sofrer terrivelmente porque não O ama como desejaria ama‑Lo.
Tal martírio só terminará no fim de sua vida quando descobre que O ama com o
coração da Mãe.
Aos que pediram para sentar‑se à direita e à
esquerda de Jesus, Ele perguntou: "Podeis beber o cálice que eu vou
beber? ".
Irmã Clara, movida pelo espirito da Virgem Maria,
pediu com insistência, como graça, beber o cálice de Jesus, não por um primado
de honra, mas pelo primado de puro amor: "Que eu seja a última em tudo,
mas a primeira no amor".
Jesus, para nos salvar, aceitou morrer na cruz e
Maria, sua Mãe, viveu no seu coração, aos pés da cruz, a morte de seu Filho.
Irmã Clara, impelida pelo exemplo da Mãe, pediu para unir sua vida, como
holocausto, ao único sacrifício salvífico de Cristo, para a salvação de todas
as almas.
No Calvário tudo foi consumado na proclamação da
maternidade universal de Maria: "Mulher, eis teu Filho...". Este
mistério inefável de amor, Maria quis reproduzir no coração de sua pequena
filha, comprometendo‑a a pedir a salvação de todas as almas com uma
oração que se tornou como que a respiração de sua alma: "Que todos,
todos sejam salvos, que nenhum dos meus irmãos pecadores se perca... ".
Concluindo, Irmã Clara viveu sua consagração mariana
na consigna dócil, total e incondicional de sua existência à Mãe Celeste para
ser uma epifania do seu "Sim" materno.
A esta altura, deixamos que ela conte a historia do
dom que a Mãe celeste quis conceder a todos os seus queridos filhos que A amam
e vivem a consagração feita ao seu Coração.
"Preciso de ti"
Maio 1950
Se não me equivoco, era o dia 15, ou melhor, entre 15
e 16, porque faltava poucos minutos para a meia noite. Eu estava na capela em
adoração noturna. Estava rezando, mais com o coração que com os lábios, por
toda a humanidade.
Diante do Tabernáculo, pedia a Jesus perdão, piedade,
misericórdia para todos os meus amados irmãos pecadores, da terra.
Estava suplicando a Virgem santa, refúgio dos
pecadores, para que Ela intercedesse junto ao seu Filho Jesus, para que nenhum
deles se perdesse, mas a todos fosse dado o Paraíso, quando, para minha grande
surpresa, do lado direito do altar, vi aparecer uma grande luz.
À vista daquele esplendor que cegava os olhos fiquei
confusa. Parecia‑me estar sonhando. Enquanto estava ainda olhando, uma
grande alegria me inundou a alma.
Vi descer do alto uma belíssima Senhora, de uma beleza
que não encontro palavras para expressar.
Estava toda vestida de branco, coberta com um véu,
também branco, que descia até os pés, todo enfeitado de ouro. Tinha, como
cinto, uma faixa azul.
A mão esquerda estava na altura do cinto, ou melhor,
um pouco acima, e na mão, um coração. Ao redor do coração, em forma de circulo,
uma coroa de grandes espinhos, três dos quais penetravam no coração. Pelo lado
esquerdo, uma espada traspassava o coração.
Fui tomada de temor: não acreditava que fosse
realidade, pensando que seria impossível que a Rainha Celeste se dignasse
aparecer a mim (3), este pobre nada, uma pobre idiota!
Enquanto pensava nestas coisas, A vi descer os degraus
do altar para aproximar‑se do banco onde eu estava ajoelhada.
Vendo‑me temerosa, insegura, disse‑me
sorrindo:
‑ Não temas, minha pequena, eu sou a tua Mãe, a
Rainha do céu e da terra. Venho pedir‑te um favor: preciso de ti!
Fiquei espantada. Toda tremula, perguntei:
‑ Mãe, que Te pode fazer este pequeno e pobre
nada?
‑
É exatamente por isso que te escolho, para que todos compreendam que aquilo que
acontece é obra só minha, não tendo nada teu. Antes, digo‑te que se
tivesse encontrado alguém menor que tu, o teria preferido. Vês estes espinhos
que me atravessam o coração? São os pecados de muitos dos meus filhos que não me amam e ofendem o
Senhor.
Venho chamá‑los à conversão, à penitencia, e
fazer‑lhes um dom do meu Coração, afim de que compreendam quanto os amo,
apesar dos pecados deles. Espero‑os para leva‑los ao Coração de
Cristo e para consolar Jesus pelos inúmeros pecados que tantas criaturas suas
cometem. A sua misericórdia e infinita. Ele espera, com ternura, que todos
retornem ao seu Coração.
Ele confiou ao meu Imaculado Coração a salvação da
humanidade.
Sou o refúgio dos pecadores. Vinde, vinde todos ao meu
Coração e encontrareis a paz que tanto buscais! Dizes‑me, minha pequena,
queres bem a Jesus?
‑ Mãe, Tu sabes que eu Lhe quero bem, mas desejo
ama‑Lo ainda mais. Esta sede é um tormento para mim, desejo amá‑Lo
como Tu O amas!
‑ E, queres bem à tua Mãe, amas‑me?
‑ Mãe, porque me perguntas? Tu me vês, me
conheces, sabes tudo, sabes que Te amo!
‑ Sim, eu sei que me amas e é por isso que te
peço que aceites de cooperar comigo para dar um dom de amor a todos os meus
filhos, os benjamins do meu coração, que amo, e pelos quais sou amada, mas
também será um apelo para aqueles que não me amam! O meu Coração os espera a
todos para leva‑los a Jesus, ao Pai.
Naquele momento vi, como em um espelho, toda a minha
miséria, a minha pobreza, os meus pecados, as condições nas quais me encontrava
no seio da minha Comunidade... Olhou‑me com ternura e disse‑me:
‑ Sei tudo, eu te sustento, não temas, as almas
custam sangue. Não queres salva‑las todas?
Um momento de silêncio, em seguida retomou:
‑ Então, estás disposta a cooperar com tua Mãe
para dar às almas este dom, como deseja o meu coração?
Então, com um nó na garganta, respondi:
‑ Mãe, ninguém acreditará em mim, arruinaria a
tua obra! Porém, eis‑me, faz de mim tudo o que quiseres!
‑ Obrigada, não temas, ama muito a Jesus.
Voltarei para dizer‑te o que espero de ti. Abençôo-te.
E colocou a mão sobre minha cabeça, dizendo-me:
‑ Até logo!
Levantou‑se lentamente da terra e desapareceu. A
luz permaneceu ainda por algum tempo, depois também esta desapareceu. Fiquei
sozinha. Não conseguia acreditar em mim mesma, porém sentia tanta paz no
coração, uma necessidade de oração, de silêncio, de me esconder, de desaparecer
aos olhos das criaturas, de união com Deus e com a Mãe.
"...confio‑te a
missão de mandar cunhar uma medalha... "
7 de outubro 1950
Estava sozinha, em adoração noturna, diante do
Sacrário. Havia transcorrido ha pouco as 23:00. Eu rezava (...).
Fui surpreendida, com alegria, pelo aparecimento de
uma grande luz do lado direito do altar.
Poucos minutos depois, eis que aparece a bela Senhora
que havia falado comigo no dia 15 de maio. Aproximou‑se com um doce
sorriso.
Tinha o mesmo aspecto, estava vestida do mesmo modo,
trazia o coração na mão esquerda e, na direita, o rosário com contas de ouro e
uma cruz que chegava ha dez centímetros dos cândidos pés.
Ao redor de toda sua pessoa, estava escrito em letras
de ouro:
"Minha Mãe, confiança e esperança, a Ti me
entrego e me abandono".
Não encontro palavra para expressar o sorriso e a
ternura com que me olhava. Disse‑me:
‑ Minha pequena, vim para confiar‑te uma
missão! Preciso de ti para conceder um dom aqueles meus queridos filhos que são
a alegria do meu coração, porque me amam e vivem, na pratica, a consagração que
fizeram ao meu Imaculado Coração, que eu havia pedido, em Fátima, por desejo de
Jesus.
Desejo
dar‑lhes um sinal, um dom, para mostrar-lhes o reconhecimento do meu
Coração de Mãe.
Este sinal será também um apelo para tantos filhos
meus que amo com ternura, mas que não correspondem ao meu amor.
Eu lhes digo: "Meus filhinhos, venham, venham ao
meu coração, eu os espero para leva‑los a Jesus que os ama! Só n'Ele
encontrarão a paz, a alegria e a felicidade que tanto buscam!". Digo‑lhes
ainda: "Orem, amem‑se como filhos de Deus, como verdadeiros irmãos,
amem‑se como Jesus e a Mãe os amam!".
Ele confiou ao meu Imaculado Coração a missão de
chamar todos os meus filhos à conversão, à oração, à penitencia; orem, orem! Se
não orarem não poderão converter‑se. Amem‑se como eu os amo.
Digo‑te com muita dor: muitos, muitos não rezam
e não amam.
Minha pequena, confio‑te a missão de mandar
cunhar uma medalha que me reproduza como me vês: é um dom de amor do meu
Imaculado Coração.
Olha o reverso da medalha.
Neste momento vi aparecer, junto dela, o seu Coração e o
de Jesus estreitamente unidos, diria quase ligados, com uma coroa de espinhos.
Em cima do Coração de Jesus havia uma cruz e o da Mãe estava traspassado por
uma espada. Debaixo dos dois Corações havia um A e um M entrelaçados, que
significava: Ave Maria. Os dois corações estavam circundados por chamas,
símbolo do amor com que ardem pela salvação de todas as almas. Ao seu redor estava escrito com letras de ouro: "Jesus, Maria eu vos amo, salvai
todas as almas ".
Depois de me haver mostrado o reverso da medalha, a
Mãe disse:
‑ Queridos filhos, eu os exorto a que recitem de
coração, freqüentemente, a invocação: "Jesus, Maria eu vos amo, salvai
todas as almas". Será como uma caricia que consola o Coração de Jesus
e o meu Coração Imaculado. Cada vez que a invocação, for recitada com fé e
amor, reparará muitos ultrajes. Cada ato de amor salvará uma alma. O amor vos
ajuda a valorizar ao máximo cada instante de vossa vida terrena. Quanto mais
forte for o amor, tanto mais fecunda será vossa vida. Amai‑vos, amai‑vos,
buscai as coisas do alto! Aqui tudo passa: só o amor permanece para sempre!
Sereis julgados pelo amor. Antes, para quem ama realmente, não haverá
julgamento: só um abraço do bom Pai com o filho que viveu só por amor e no
amor!
Escutai
vossa Mãe! Falo‑vos, exorto‑vos porque vos amo e vos quero felizes,
eternamente, lá no Paraíso! Quero levar‑vos a Jesus e ao Pai que vos
espera a todos!
Prometo
a todos aqueles que levarem consigo este dom do meu Imaculado Coração,
testemunhando sua consagração, abençoa-los, conduzi‑los pela mão,
conserva‑los no meu Coração como filhos prediletos para apresenta‑los
a Jesus. Assisti-los-ei no momento da morte para que o inimigo, satanás,
não possa prejudica‑los e estarão, comigo, no Paraíso, onde Jesus lhes
dará o prêmio eterno.
Conhecendo a minha miséria e pobreza, fui tomada de
temor e perguntei:
‑ Mãe, Tu vês o meu nada, sabes que sou uma
pobre idiota: como poderei relatar todas as tuas palavras, descrever o teu
amor?
‑ Minha pequena, repito, não temas: eu te
escolhi exatamente porque és um nada, afim de que compreendam que aquilo que
fazes não é obra tua, mas que sou eu a agir em ti. Ou, talvez, não confias em
tua Mãe?
‑ Ó, sim, Mãe, faz de mim tudo o que quiseres,
sou propriedade tua, entrego‑me a Ti, abandono‑me ao teu Coração.
‑ Coragem, não temas, fala com o ministro de
Deus, o Espirito Santo te guiara. Também se para realizar isto deves sofrer,
faz tudo por amor, para a salvação de todas as almas! Fica serena, repito, não
temas. O meu inimigo, Satanás, tudo fará para impedir este projeto, porque
através dele serão glorificados Deus e o meu Imaculado Coração. Eu estou
contigo e, no final, triunfarei!
Depois, dirigindo‑se a todas as almas, disse:
Meus filhinhos, entrego‑vos o meu Rosário,
corrente de ouro que vos mantém ligados estreitamente ao meu coração: rezem,
rezem o Rosário, segurem‑no bem apertado, recitem‑no com fé, com
o Coração. Será a salvação da humanidade!
Este será o sinal de que são meus!
O inimigo o teme muito, e tudo faz para perder as
almas. Porém eu, sua Mãe, faço de tudo para salva‑los, porque esta e a
vontade do Senhor.
Mas, tenho necessidade da vossa ajuda! Rezem, façam
sacrifícios e penitencia. Amem‑se, amem‑se como eu os amo. Só assim
as almas serão salvas.
Depois, dirigindo‑se a mim, prosseguiu:
‑ Tu, minha pequena, repito‑te mais uma
vez, não deves temer. Estou contigo. O Espirito falará em ti, tem confiança.
Tudo por amor, só por amor!
Depois, colocando a mão sobre a minha cabeça, disse
com ternura:
‑ Abençôo-te e permaneço contigo para te
sustentar na prova.
Sorrindo, elevou‑se da terra e desapareceu
enquanto a luz permaneceu ainda por um algum tempo. Depois tudo desapareceu,
deixando uma grande paz no meu coração.
7 Dezembro 1950
Naqueles dias, o pensamento de dever falar daquilo que
havia acontecido entre mim e a querida Mãe do céu preocupava‑me um pouco.
Não sabia como iniciar a conversa!
No dia 07 de dezembro, enquanto estava rezando à
Virgem Maria, suplicando‑lhe que viesse em meu auxilio, falou‑me
com muita ternura:
‑ Minha pequena, fala com o ministro de Deus,
relata‑lhe tudo o que te comuniquei!
Será para a gloria de Deus, do meu Imaculado Coração e
para a salvação de todas as almas.
Não temas, verás que te compreendera: será o Espirito
de Deus quem falará por teu intermedio!
Fala com a simplicidade das crianças. Só assim poderás
cumprir a missão que te confiei.
‑ Sim, Mãe, mas ajuda‑me porque Tu sabes
que sou um pobre nada, uma pobre idiota. Imploro-Te, vem em meu socorro, a fim
de que eu não prejudique a tua obra.
‑ Fica serena, não temas, eu estou contigo.
Apresentei‑me, então, ao confessor e, retomando
o assunto varias vezes, disse‑lhe tudo o que tinha visto e ouvido da doce
e querida Mãe do Céu.
As minhas confissões anteriores sempre tinham sido
muito rápidas, mas, a partir disso foram mais demoradas, a fim de responder às
perguntas que o Padre me fazia sobre o assunto (...).
Enquanto isso o tempo passava. Quando o confessor
esteve ao par de tudo aquilo que a Virgem me havia pedido, disse‑me:
‑ Asseguro‑te, em nome de Deus, que tudo
isso não é ilusão de tua parte e nem arte do demônio, mas é um sinal da
predileção por ti, pequena alma, por parte do Imaculado Coração de Maria e
também de ternura materna por todos os seus filhos. Ela deseja que a
Consagração feita pela Igreja ao seu Coração, por desejo do Senhor Jesus, seja
vivida na pratica!
Depois disse‑me:
‑ Reza muito, quero pedir um sinal, não porque
não acredite que seja obra de Nossa Senhora, mas para estar melhor preparado
para realizar o que ela esta pedindo a esse seu indigno ministro.
Maio 1951
Um dia o confessor disse‑me:
‑ Tive o sinal que
pedi.
Ordenou‑me, então,
escrever tudo aquilo que lhe havia dito para ele poder agir.
Devia escrever à noite,
porque durante o dia estava ocupada com muitos trabalhos.
Escrevi em dois cadernos,
um para o confessor e outro para mim.
Setembro 1951
No dia de Nossa Senhora Menina entreguei ao confessor
o caderno contendo as informações do que havia acontecido entre mim e a Rainha
do céu.
Ele me disse:
‑ Agora vou começar a agir para cumprir cada
coisa!
Na próxima vez, porém, veio outro Padre da mesma
comunidade do confessor atender às confissões. Desde então não o vi, nem ouvi
mais nada sobre ele. Mais tarde, soube que havia conversado com o Delegado das
religiosas, o qual, por sua vez havia falado com a madre superiora.
As conseqüências foram inimagináveis: segundo o
parecer da madre eu estava sendo um pobre iludida e tudo o que havia acontecido
era obra do demônio...
Depois o Delegado falou a toda a comunidade, e me
impôs silêncio, ordenando‑me não falar mais sobre estas coisas. Em
seguida, designou um novo confessor para nossa comunidade, um sacerdote
diocesano, em lugar dos "religiosos".
O caderno que havia guardado para mim, desapareceu...
Abril 1952
Ao novo confessor, nomeado por minha causa, confessava
minhas faltas em poucos minutos e só.
Nas primeiras vezes tudo foi bem, depois começou a me
interrogar e perguntar‑me se não tinha nada a dizer‑lhe.
Respondia que não, que me era suficiente a absolvição
dos meus pecados, já que este era o objetivo da confissão.
Depois de muito tempo, começou a me atormentar
insistindo que deveria falar: "Fale, pode ser que você tenha razão...
".
Mas eu não podia falar porque estava proibida pelo
Delegado para as religiosas.
Junho 1952
Neste período eu experimentava uma luta terrível.
As tentações eram meu alimento dia e noite. Só Deus
sabe: até o desespero! O demônio aproveitava para me atormentar de todas as
maneiras (...).
Parecia-me que para mim nada mais restava, senão o
inferno! (...).
Perdão Padre, se contei tudo o que aconteceu, mas fiz
por obediência: garanto‑lhe que preferiria morrer e levar tudo para o
segredo da sepultura.
Imagine o meu estado de alma! Em alguns momentos a
tentação era tão forte que parecia‑me estar perdida: e então, continuar
vivendo, para que? Sozinha, sozinha, sem uma palavra de ninguém.
Meu pobre coração gritava: "Jesus e Maria, onde
estão? Venham em meu auxilio!". Mas não obtinha resposta.
Agarrava‑me à fé gritando com o coração:
"Jesus, confio e espero em Ti, só porque acredito no teu amor por mim! Sei
que me amas, disso eu não duvido! Se queres, manda‑me para o inferno; sei
que o mereço por meus pecados. Porém sei também que a tua misericórdia é maior
que todos os pecados do mundo. Embora parecendo absurdo, se Tu me mandasses
para lá, no profundo do inferno, recorda-Te que Tu ficarás no Paraíso, mas sem
a tua Mãe, porque eu vivo no seu Imaculado Coração e não posso me separar
d'Ela! Ela também viria comigo!".
Com este ultimo grito feri o seu divino Coração que
com ternura disse‑me:
Minha pequena, quem está com minha Mãe, está Comigo.
Coragem, não temas, porque ponho à prova exatamente aqueles que me amam.
Tudo isso foi, para o meu pobre coração, como um raio
de luz, mas apenas momentâneo.
Uma provação bem maior do
que eu esperava
Novembro 1952
Um dia, enquanto estava na cela sozinha e me preparava
para repousar, inesperadamente, encontrei‑me diante de um jovem, de
aproximadamente quinze anos.
Apavorei‑me e fiz menção de fugir, mas ele se
colocou na porta dizendo‑me:
‑ Por que tanto medo? Sou o anjo do Senhor, vi
teu sofrimento e venho para consolar‑te. Tenho tanta pena de ti! Por que
tanto sofrimento? Pede ao Senhor que te liberte!
Respondi:
‑ Se o Senhor permite isto, eu não recuso o
sofrimento, porque quero que seja feita a vontade d'Ele!
Ele respondeu:
‑ Fica tranqüila, pedirei por ti. Voltarei
ainda.
Assim dizendo desapareceu como um relâmpago, sem que
eu percebesse por onde.
"Coragem, minha
pequena, não temas!"
21 de Novembro 1952,
Festa da Apresentação de Maria Santíssima no Templo
Encontrava‑me em adoração diante do Santíssimo
Sacramento. Atormentava‑me um grande sofrimento: não conseguia afastar da
minha mente a imagem daquele jovem que dizia ser o anjo do Senhor. Era duas ou
três da tarde e todas as irmãs estavam nas suas celas para descanso ou para
estudo. Experimentava muita tristeza e não era capaz de rezar. Dizia comigo
mesma no coração:
"Mãe, Mãe, onde estás? Tem piedade desta tua
menina pequena, sozinha, sozinha, abandonada por todos".
Tinha vontade de chorar pelo medo de ter sido iludida
e ter enganado a todos e temia que, por isto, Jesus e Mãe me tivessem
abandonado.
Estava ajoelhada com os olhos baixos. Pouco tempo
depois percebi que me chamavam:
‑ Pequena, minha pequena!
Reconheci que a voz era da Mãe. Tive um sobressalto de
alegria, levantei os olhos, e A vi diante de mim sobre os degraus do altar,
toda rodeada de luz, vestida como nas outras duas vezes, porém ao redor da
cabeça trazia uma coroa de doze estrelas, das quais emanava uma luz
indiscritível. Desceu os degraus do altar, aproximou‑se do banco onde
estava ajoelhada, colocou sua mão direita sobre minha cabeça dizendo‑me
com muita doçura e ternura:
‑ Minha pequena, coragem, não temas!
Com um no na garganta respondi:
‑ Mãe, eu Te traí? Eu te havia prevenido que
ninguém acreditaria em mim: estraguei tua obra, perdoa-me, tem piedade de mim!
Tu sabes tudo! Mãe, me perdoastes?
Fez‑me uma caricia, dizendo‑me:
‑ Minha pequena, não temas, falo para
consolar-te. Escuta‑me. Sabes que este teu sofrimento deu tanta gloria a
Deus e ao meu Imaculado Coração que salvastes mais almas do que se tivesses
conseguido realizar o que te havia pedido. Fica tranqüila, não é por tua culpa,
mas por causa da raiva de Satanás que se serviu das criaturas para impedir a
minha obra. Porém, asseguro‑te que o meu Coração triunfará. Conserva em
segredo o que se refere à medalha! Deverás sofrer ainda, porém virá um tempo em
que o Senhor suscitará aquele que será o instrumento para realizar o que te
pedi, segundo as promessas que te fiz, para o bem de tantas almas. Acreditas em
mim, minha pequena?
‑ Sim Mãe! Tu podes tudo! Mas se tivesses
escolhido um instrumento apropriado, todos teriam acreditado e se realizaria...
A Mãe Celeste insistiu:
‑ Não digas isso, eu te escolhi porque es um
nada, para que todos compreendam que o que acontece é obra só minha. Alias,
digo‑te que se tivesse encontrado uma pessoa menor e mais pobre que tu, a
teria preferido, porque a gloria seria toda de Deus e do meu Coração, e para
ela só a humilhação e o desprezo.
‑ Obrigada, Mãe. Mas, diz‑me, onde estavas
quando eu sofria tanto, chamava-Te e não me respondias?
‑ Ó, minha pequena, quem te deu a força para
suportar, em silêncio, tudo o que aconteceu? Éramos Jesus e eu. Eu sempre a
tive no meu Coração, onde está Jesus e sempre estarei contigo. Coragem, não
temas, sou tua Mãe. Es muito pequena, sozinha não serias capaz de nada: deixa
para Mim e para Jesus. Tua missão é: oração e sacrifício.
Não
temas, ama o sofrimento e Jesus te dará todas as almas. Não te canses, continua
por este caminho. Eu estou contigo, te saúdo e te abençôo.
Colocou sua mão sobre minha cabeça, sorrindo se elevou
da terra e desapareceu na luz, deixando uma esteira atras de Si.
Deixo‑te imaginar, querido Padre, o que
aconteceu no meu coração! Um desejo de me esconder, de sofrer, de viver só para
amar Jesus e a Mãe e fazer com que todos os meus irmãos Os amem (...).
Dezembro 1952
Renovei, com mais confiança, meu ato de abandono em
Jesus e no Coração da Mãe, confiando-lhes estar pronta para sofrer tudo o que
Eles permitissem, sempre com medo de mim mesma, mas confiante na ajuda deles.
Passei todas as festas de Natal com grande serenidade
e intimidade com a querida Mãe, que me fez experimentar a doçura das carícias
do seu pequeno divino Menino Jesus (...).
20 de Janeiro 1953
O confessor continuava a insistir para que lhe
falasse. Cada vez era um tormento para mim! Também tinha medo de desobedecer.
Que fazer? O Superior me havia proibido falar, a Mãe Celeste pediu‑me
para guardar segredo até que o Senhor me tivesse mandado um instrumento
apropriado.
No dia 20 de janeiro de 1953, enquanto estava para
deitar‑me, ouvi um pequeno rumor, semelhante ao respiro de uma pessoa.
Assustada, não tinha coragem de levantar os olhos, nem de trocar a roupa para
me deitar.
Rezava com o coração invocando a ajuda de Jesus e da
Mãe. Depois decidi levantar os olhos e vi diante de mim o jovem que me falara,
em novembro. Amedrontada abaixei os olhos. Ele, então, tomou a palavra dizendo‑me:
‑ Não tenhas medo, sou o anjo do Senhor. Fico
penalizado com o teu sofrimento. Escuta‑me, falo para o teu bem. Porque
colocas tanta resistência ao ministro de Deus, não sabes que desobedeces? Deves
ser mais dócil e falar com simplicidade! Por acaso não fizestes voto de
Obediência? Venho da parte de Deus, fala, e tudo estará terminado!
Não tinha força para abrir a boca, parecia‑me
estar muda pelo medo.
Ele replicou:
‑ Vou te ensinar o que deves dizer. Pede‑lhe
perdão por teres mentido, diz que nada do que vistes e ouvistes
"daquela" é verdade, mas que foi tudo ilusão da tua parte. Confessa a
verdade, enquanto é tempo, do contrario... Não respondes nada? Pensa bem,
voltarei ainda.
Meu Padre, deixo‑lhe imaginar como me senti mal!
Tinha uma duvida: quando a querida Mãe falava comigo
sentia muita paz e alegria dentro de mim e ficava feliz, de um modo
indiscritível.
O anjo do Senhor, ao contrario, me inspirava medo,
deixando‑me atormentada: confusão, duvidas, incertezas. Não era capaz de
me retomar. Contudo, não estava disposta a falar ao confessor: alem de
experimentar certa repugnância, tinha também a proibição do Superior e da Mãe.
Enquanto lutava dentro de mim, veio‑me em mente
que um santo, do qual não me recordo o nome tinha dito: "Se a voz do
Senhor me ordenasse algo contrario à vontade do Superior, obedeceria a este
porque agindo desta forma estaria certo de não me enganar, enquanto a voz do
Senhor poderia ser ilusão".
Quanta luta dentro de mim! Seria possível que Jesus e
a Mãe me tivessem enganado?
Continuei com este tormento. Alem disso, um dia
encontrei escrito, não me lembro onde, que o demônio às vezes toma o aspecto de
anjo da luz para enganar as almas. Fiquei impressionada, mas não sabia o que
fazer.
Rezava, rezava com insistência ao Espirito Santo e a querida
Mãe Celeste para que me ajudassem.
Um dia, enquanto rezava, ocorreu‑me pedir a
concessão, para confessar‑me com um certo padre Michelangelo.
Mas, ao mesmo tempo lembrava que a Mãe do Céu dissera‑me
de manter segredo sobre o acontecido até que o Senhor enviasse um instrumento
apropriado para realizar o que Ele desejava.
Estava indecisa pensando no que responderia se o padre
que desejava chamar, me perguntasse: "A respeito do que mentistes?".
O meu refúgio sempre foi a oração.
"Sou eu em carne e
osso. Toca as minhas mãos..."
8 de maio 1953
Durante a noite, estava rezando diante do santo
Tabernáculo, mais com o coração que com os lábios, sempre atormentada pela
duvida de ter sido uma iludida, encontrei‑me, como das outras vezes,
diante da doce Mãe Maria, toda envolvida de luz.
Aproximou‑se e sorrindo dizia‑me:
‑ Minha pequena, coragem, não temas!
Tua Mãe não te pode enganar: sou eu, em carne e osso.
Toca as minhas mãos: sou uma criatura humana como tu, ainda que venha do céu!
Foi o Senhor quem me confiou esta missão, para o bem de todos os meus filhos
que vivem na terra.
Fala, pois com aquele padre que desejas pedir como
confessor; eu te permito! Verás, ele compreenderá que sou eu que falo contigo.
O meu adversário quer te atormentar e impedir que eu,
como tua Mãe, conceda este dom para o bem e a salvação das almas. Fala sem medo
e acredita na sua palavra.
‑ Perdoa, Mãe, as minhas duvidas! Sei que es tão
boa, mas conhecendo a minha pobreza e pequenez, tenho receio de enganar‑me.
‑ Volto a repetir, não temas! Fica tranqüila.
Abençôo-te.
A doce Mãe deixou no meu coração alegria e paz, também
desta vez! (...).
20 de junho 1953
Em junho decidi pedir, por caridade, para confessar‑me
com aquele padre de quem já falei.
Ele veio depois de poucos dias. Expus‑lhe, com
simplicidade, o que me havia dito o anjo do Senhor, na primeira vez e também na
segunda. O confessor, por uns instantes, ficou pensativo, perguntando‑me,
em seguida:
‑ Sobre o que mentistes?
Então, tomei coragem e contei tudo o que a Mãe do céu
me havia dito, o que Ela queria de mim, e a luta que tinha dentro de mim,
durante três anos, pelo medo de estar "iludida".
Ele esteve pensando durante algum tempo. Fez-me algumas
perguntas, depois disse‑me:
‑ A mim me parece que é mesmo Nossa Senhora que
quer levar a termo o que Jesus pediu à Ir. Consolata Bertone. Peço‑te, em
nome de Deus, fica tranqüila.
Tomei coragem e lhe perguntei:
‑ Aquele jovem que disse ser o anjo do Senhor,
prometeu‑me que voltaria. Tenho tanto medo! Como devo comportar‑me?
Respondeu‑me:
‑ Escuta o que ele te diz, se vês que insiste em
afirmar que mentistes, toma água benta e asperge‑o dizendo. "Em nome
de Deus e da Virgem Santa retira‑te daqui". Depois me contarás como
ele se comportou para certificar‑me se é Satanás ou o anjo do Senhor.
As palavras do padre deixaram‑me serena e
tranqüila. Porém, esta serenidade logo foi perturbada por aquele que dizia ser
o anjo do Senhor.
Agosto 1 953
Uma tarde, havia deitado um pouco e estava rezando. A
um certo momento percebi um pequeno rumor na cela mas não fiz caso. Pouco
depois, senti tocar‑me na testa. Fiquei impressionada. Estendi o braço
para acender a luz, mas não a encontrei.
Fiquei apavorada. Enquanto estava incerta sobre o que
fazer, ouvi a voz do jovem que havia visto nas duas vezes anteriores dizer‑me:
‑ Não temas, sou eu, o anjo do Senhor.
Então, olhei: era ele mesmo! Continuou dizendo-me:
‑ Não tenhas medo, venho para o teu bem. Por que
não me destes ouvido? Sê boazinha, escuta o meu conselho, caso contrario te
arrependerás, quando já será muito tarde. Continuando desta forma somente te
enganas! Confessa que esta historia foi tudo ilusão e não penses mais nisto.
Enquanto estava titubeando e muito amedrontada,
recordei‑me daquilo que o padre me havia dito. Queria pegar a água benta
que tinha em cima da mesa de cabeceira, mas tinha medo. Então peguei o
crucifixo que tinha sempre no peito e levantando‑o disse:
Em nome de Cristo e da Virgem Imaculada retira‑te
daqui!
Fez‑me uma careta e com voz severa disse‑me:
‑ Maldita tu e quem te sugeriu isto; pagar‑me‑ás!
Se não fosse "Ela" te estrangularia!
Ficou como uma brasa e fugiu deixando atrás de si uma
esteira de fogo, que durou alguns minutos.
Deixo a sua imaginação, Padre da minha alma, o terror
que experimentei.
Fui tomada de pavor, pensando que tudo o que havia
acontecido entre a querida Mãe e eu, fosse, verdadeiramente, ilusão de minha
parte. Que tormento! Já não conseguia dormir de medo. Então, decidi chamar
novamente aquele padre e lhe contei tudo. Depois de ouvir‑me, disse‑me:
‑ Isto é raiva do demônio! Agora estou
convencido de que foi a Virgem santa quem te falou para conceder aquele seu dom
à humanidade, como penhor do seu amor de Mãe para a salvação das almas. Não
tenhas medo!
‑ Padre, temo muito!
‑ Não, fica tranqüila! Asseguro‑te que a
Virgem não permitirá que Satanás te faça algum mal. Não estás no Coração dela?
‑ Sim, Padre, ajude‑me o senhor, porque me
sinto tão pequena e pobre.
E ele:
- Tem confiança e vive o abandono total nas mãos dela
que te ama de coração e com ternura materna:
"Eis‑me, aqui
estou: agora me pagarás!"
Novembro 1953
Naquele período um dos dormitórios estava em perigo de
ceder, pelo afastamento das vigas, razão pela qual fomos forçadas a estarmos
todas no outro dormitório. Concordamos dormir duas em cada cela, com um pequeno
biombo separando as camas.
Ai aconteceu o pior. Naquela noite eu já estava deitada,
como também a irmã que era minha vizinha e parecia que ela já estivesse
dormindo.
Não sei porque, mas não conseguia dormir.
Depois de uma hora ouvi uma voz que me encheu de
pavor, dizendo‑me:
‑ Eis‑me, estou aqui: agora me pagarás!
Abri os olhos e me encontrei diante daquele jovem que
se dizia ser o anjo do Senhor. Só Deus sabe qual foi o pavor que experimentei!,
só Deus o sabe. (...) Ele fazia menção de se aproximar da minha cama (...).
Não sei, caro Padre, se podes imaginar o que
experimentei! Não podia fugir... Quanta angustia senti dentro de mim... Vi-me
perdida e, sem querer, comecei a gritar por socorro.
A irmã acordou perguntando se me sentia mal. De
repente aproximou‑se da minha cama, e vendo‑me tremer de medo,
perguntou‑me:
‑ O que aconteceu?
Respondi‑lhe:
‑ Por favor, aspirja água benta, porque é o
demônio! Reza para a Virgem Santa que afaste de mim este monstro, sinto‑me
morrer!
A pobrezinha começou a fazer o sinal da cruz com água
benta e a rezar a Ave Maria. Não sei explicar o que aconteceu. Só sei que
aquele jovem se transformou em um monstro repugnante e fugiu urrando, fazendo
tremer toda a cela.
Perguntando a irmã que dormia comigo, na mesma cela,
se tinha visto alguma coisa, respondeu‑me:
‑ Não, porém percebi que acontecia alguma coisa
que eu não sei explicar (...).
Perdoa‑me, Padre da minha alma, se estou lhe
dizendo tudo isso. Faço‑me violência somente para obedecer (...).
"... durante quase quarenta anos sofri e lutei
entre a alegria que me trazia a querida e doce Mãe do Céu e a imensa dor,
porque, por minha causa, não foi possível realizar o que me havia pedido,
embora a querida Mãe me havia garantido que mandaria um instrumento para
realizar tudo aquilo que desejava dar como dom aos seus queridos
filhinhos".
Acometia‑me fortemente o temor de que fosse uma
ilusão e até hoje esse pensamento me atormenta freqüentemente.
Depois de muita oração e das exortações da Mãe,
apresentei‑me ao senhor, Padre. Não sei se se lembra daquele primeiro
encontro!
Senti‑me acolhida no mesmo instante e entendi
que o senhor me havia compreendido. Porém, confesso que cada vez que me
propunha falar da Virgem Maria, quando me encontrava diante do senhor sentia
uma força que me impedia de falar e não conseguia dizer uma palavra. Desta
forma, o temor de ter‑me iludido ficava sempre mais forte.
Um dia a Mãe disse‑me:
‑ Fala, minha pequena! É este o instrumento que
Jesus te mandou para realizar aquilo que eu te havia pedido.
‑ Perdoa‑me, Mãe, Tu vês, não consigo
dizer uma palavra...
‑ Não temas, e a raiva do meu inimigo que quer
impedir que a tua Mãe entregue este dom aos seus filhos queridos, para a
salvação das almas.
Tomei coragem e Lhe disse:
- Ouve, querida Mãe, perdoa o meu atrevimento! Se es
Tu mesma que queres isto, Tu que tudo podes, faz com que seja ele a me
perguntar: então, ser‑me‑á mais fácil expor com simplicidade tudo
aquilo que Tu me pediste.
Confiante na ajuda da Mãe, fiquei tranqüila e serena,
na certeza de que Ela conduziria as coisas, para que fosse o senhor, Padre, a
me interrogar. Depois de ter lido os meus cadernos, quando o senhor perguntou
qual o segredo que tinha, não sei se o senhor percebeu, fiquei comovida, senti
uma força que não era minha e pude falar com facilidade.
Obrigada, minha querida Mãe, quanto sois boa e
condescendente!
Os acontecimentos de natureza mística requerem ser
avaliados com senso e responsabilidade, sem atitudes prejudiciais, nem no
sentido positivo, nem negativo.
Como premissa, é preciso ter presente que, no agir
divino, liberdade e imprevisibilidade são características muito evidenciadas
nas páginas da Bíblia.
Não podemos presumir que o agir divino entre em nossos
esquemas mentais.
No nosso caso, os elementos preciosos para avaliar o
fundamento da experiência, foram oferecidos pela própria pessoa que a viveu.
Antes de mais nada, a narração, examinada atentamente,
nos oferece sérios elementos de credibilidade. A existência, desta Irmã
Clarissa foi de tal envergadura espiritual que se pode excluir qualquer
suspeita de engano e isto sem desconsiderar as exigências que a prudência
requer, principalmente nesta matéria.
Não é irrelevante o fato de que este evento só tenha
vindo a luz quarenta anos depois.
Obrigada, de modo tão dramático, silencia‑lo
desde o começo, a vidente esperou com fé, o momento que a Virgem lhe havia
preanunciado, sem tomar ela mesma, iniciativa alguma.
Poderia ter‑se aproveitado do tempo em que
desempenhou a função de Abadessa, período em que poderia agir com certa
liberdade e, valer‑se também da cooperação de um influente sacerdote
religioso que a estimava muito e a quem ela mesma, dirigiu‑se, muitas
vezes, para pedir conselho.
O mesmo sacerdote que se empenhou para mandar cunhar a
tal medalha, embora acompanhando‑a no seu caminho espiritual por alguns
anos e tendo ouvido muitas confidências a respeito de suas experiências
místicas, nunca suspeitou que ela guardasse tal segredo.
Somente depois de uma intervenção extraordinária fez‑lhe
a pergunta que ela esperava e desta forma, veio à luz um evento de graça e de
sofrimento, difícil de compreender.
A Consagração consiste numa relação filial de
particular pertença a Maria.
Suas origens coincidem, ainda que em forma
embrionária, com o inicio do culto mariano na Igreja.
A oração antiquíssima: "Sob vossa
proteção" (Sub tuum praesidium), exprime a confiante consigna do fiel
à Virgem Maria. Em cada época, os fieis enamorados de Maria expressaram esta
singular consigna da própria pessoa com diferentes modalidades e formas.
São Luís Grignon de Montfort é considerado o principal
entre os que promoveram a pratica da Consagração a Maria, fundamentada em
princípios doutrinais sérios.
Ao lado de Montfort, seria oportuno recordar uma
grande quantidade de outros teólogos e Santos que deram o seu contributo
doutrinal para esclarecer a relação singular do fiel que se consagra a Virgem
Maria.
Os Pastores foram encorajados a promover a Consagração
ao Coração Imaculado de Maria, com particular empenho e zelo pastoral, para o
bem espiritual dos fieis, inspirando‑se no magistério da Igreja a
respeito deste tema e na ação dos últimos Pontífices que repetidamente
efetuaram a Consagração do gênero humano e de nações particulares.
A medalha que a Virgem deu à Irmã M. Clara Scarabelli
está relacionada com a Consagração que a Igreja fez ao seu Imaculado Coração,
como Ela mesma havia pedido em Fátima.
A Consagração ao Imaculado Coração de Maria, constitui‑se
em um singular evento de graça do século XX.
Pio XII, em 31 de outubro de 1942, consagrou toda a
humanidade ao Imaculado Coração de Maria. Paulo VI a repetiu no termino do
Concilio Vaticano II e a renovou em 1967.
João Paulo II quis renova‑la, em comunhão com
todos os Pastores da Igreja, em 25 de março de 1984.
Tudo isto aconteceu, e é bom dizer com franqueza, como
resposta ao pedido explicito de Maria, feito nas aparições de Fátima.
A consagração não se esgota em uma formula.
Ela é, por natureza, compromisso de toda a vida.
Não é uma pratica, mas uma escolha de vida.
A consagração ao Imaculado Coração de Maria
corresponde a um desígnio de Deus: portanto não é de admirar que a Virgem a
tenha pedido e queira leva‑la ao seu pleno cumprimento.
A Maternidade de Maria:
Fundamento da Consagração
Embora a Consagração a Maria funde suas raízes desde o
inicio do culto mariano e, tenha sido expressa com varias fórmulas e diferentes
modalidades pelos fieis, foi considerada uma pratica que se origina de um
grande afeto, por parte das almas particularmente enamoradas de Maria.
Mesmo a tentativa que a teologia fez para justificar
esta relação particular do fiel com Maria limita‑se a demonstrar a
fundamentação teológica e a conveniência espiritual.
A razão que justifica e postula a Consagração de toda
a humanidade a Maria, fundamenta‑se na sua maternidade universal ‑
verdadeira maternidade ‑ como afirmou o Concilio Vaticano II.
A maternidade de Maria, que abrange a Igreja
universal, proclamada por Paulo VI no encerramento do terceiro período do
Concilio Vaticano II, embora intuída e testemunhada no decorrer da história por
tantos Padres e ilustres Doutores da Igreja, tornou‑se plenamente
luminosa apenas em nossos dias.
A Consagração nada mais é senão a maternidade de
Maria, coincidentemente acolhida e vivida por todos os fiéis.
Consagração significa pertença exclusiva! O termo
"consagração" que é usado para expressar a pertença a Deus, permanece
sempre único e exclusivo e não pode, com o mesmo significado, referir‑se
a nenhum outro ser criado.
A problemática surgida sobre a liceidade de se
consagrar a alguém que não seja Deus, no nosso caso cai, pois deve‑se ter
presente que a natureza da pertença a Maria caracteriza‑se pela relação
específica que se interpõe entre mãe e filho.
Faz parte do plano salvífico de Deus que Maria seja
nossa Mãe na ordem da graça, razão pela qual é nosso dever respeita‑lo!
Definitivamente, podemos dizer que é Deus mesmo quem nos consagrou a Maria,
tornando‑nos seus filhos.
Outra objeção è a de que este tipo de consagração é
supérfluo, considerando a radicalidade da consagração batismal.
A Consagração a Maria é exatamente em função desta
consagração batismal. E o reconhecimento e a acolhida de sua função materna em
relação à vida de graça que nasce com o batismo. Longe de se sobrepor, ou de
ofuscar a consagração batismal, a consagração mariana evidencia a necessidade
da ação materna de Maria em relação ao nascimento e desenvolvimento de tal
vida.
O fundamento bíblico da maternidade de Maria encontra‑se
em Jo 19, 26‑27: "Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o
discípulo a quem amava, disse à sua mãe: 'Mãe, eis o teu filho!' Depois disse
ao discípulo: 'Eis a tua mãe!' E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em
sua casa".
Que Maria tenha acolhido sua maternidade em relação ao
"discípulo", de modo consciente, é muito claro, mas é claro que
também o discípulo acolheu de modo consciente esta nova relação com a Mãe de
Jesus.
É convicção geral que o 'Discípulo' a quem Maria é
entregue como Mãe por Jesus moribundo é protótipo de todos os discípulos de
Jesus, aliás, de todos os homens, porque todos são chamados, em Cristo, à
salvação. Portanto, o que se requer é que, como João acolheu Maria como Mãe,
cada cristão abra‑se a esta acolhida e receba Maria como sua Mãe.
A Consagração ao Imaculado Coração de Maria, consiste
na acolhida concreta e consciente da sua maternidade em nossa vida, segundo o
desígnio salvífico de Deus.
Muitas pessoas escreveram sobre o modo de viver nossa
relação filial (de consagração) com Maria. Entregando‑nos a Ela como
filhos dóceis, consentimos que Ela nos torne partícipes do mistério de sua
"pura e incondicional acolhida de Deus mediante a fé, a esperança e a
caridade".
A salvação, de fato, consiste em acolher Cristo em
nossa vida. A existência de Maria é, em grau eminente, pura acolhida de Cristo,
ainda mais do que fez o apostolo Paulo que dizia: "Já não sou eu que
vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo
pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim "
(Gl 2, 20).
Maria deseja acender em nossos corações de filhos sua
fé, esperança e caridade... indispensáveis para uma verdadeira e frutuosa
acolhida de Cristo em nós. Sob este aspecto podemos falar de "ministério ‑
mas também de mistério ‑ próprio de Maria" propiciando aos filhos
sua capacidade de acolher Cristo, nossa salvação.
Uma medalha não tem outro significado que o de
"sinal". Também a conhecida como "medalha milagrosa" é
apenas um "sinal" cujo valor depende daquilo que ela significa. De
fato, em si mesma, a medalha não possui prerrogativas miraculosas ou magicas.
A linguagem do sinal, e mais ainda a do símbolo, é o
mais apropriado para expressar a realidade que pertence ao mundo do sagrado.
A medalha que recorda, de modo particular, a própria
Consagração a Maria, deve ser considerado como sinal distintivo da pertença a
Ela e não apenas de simples devoção, como pode ser qualquer outra efígie sua.
Alem de ser um sinal de pertença, torna‑se também testemunho.
A medalha que a Virgem pediu que fosse cunhada é um
dom: "Desejo dar um sinal, um dom de amor a todos os meus filhos, os
benjamins do meu Coração, que amo e, pelos quais sou amada, para demonstrar‑lhes
o reconhecimento do meu Coração de Mãe". Um dom que se identifica com
o seu Coração: "Venho (...) para dar‑lhes o dom do meu Coração,
para que compreendam quanto Eu os amo... ". Maria nos dá o seu
Coração, não só como expressão do seu amor mas também como capacidade, de nossa
parte, de amar Jesus com seu mesmo amor .
Alem disso é um apelo a viver com coerência e
fidelidade os valores da Consagração: "Isso será também um apelo para
muitos dos meus filhos que amo com ternura, mas que não correspondem ao meu
amor".
Não seria possível carregar esta medalha, que tem
valor de sinal, levando uma vida que contraste com tudo o que ela significa sem
experimentar conflito interior e mal‑estar.
Parece fazer parte do estilo da Virgem confirmar, com
sinais particulares, eventos eclesiais a respeito de sua pessoa. As aparições
da Imaculada Conceição em Lourdes em 1858 aconteceram logo depois da
proclamação desta verdade de fé por parte da Igreja (Pio IX, 1854).
A aparição a Santa Catarina Labouré (27 de novembro de
1830) a quem a Virgem pediu para cunhar a medalha resplandecente (chamada
milagrosa), não foi, talvez, uma colaboração vinda do Alto para encorajar a
proclamação da sua Imaculada Conceição?
Pode surpreender que Ela tenha querido dar um sinal de
particular agrado, depois que a Igreja, acolhendo seu insistente pedido,
consagrou ao seu Imaculado Coração o mundo inteiro?
Dando credibilidade a esta história, não se corre o
risco, talvez, de criar uma certa confusão colocando ao lado da medalha
milagrosa, tão enraizada na devoção de tantos cristãos, outra medalha, também
essa proposta expressamente pela Virgem Maria?
Não poderia surgir confusão com prejuízo da
transparência que devem ter os sinais da piedade cristã, os quais são válidos e
recomendáveis unicamente se elevam o espírito até a realidade que significam?
Não se corre o risco de cair no ridículo fazendo Maria
aparecer através destas duas medalhas concorrendo consigo mesma?
Estas dificuldades hipotéticas são apenas aparentes. O
valor da medalha milagrosa e sua importância para a piedade popular não são
colocadas em discussão.
A medalha de que falamos "dom e chamado" a
viver a Consagração a Maria, apenas tem sentido para aqueles que são
consagrados ao seu Coração.
Carrega‑la sem ser consagrados a Virgem, seria
como carregar um distintivo de pertença a um determinado movimento, sem fazer
parte do mesmo. Uma medalha não substitui a outra!
Pode‑se exemplificar o que ficou dito acima com
a analogia dos anéis. As pessoas usam anéis com diferentes significados e
ligados a lembranças mais ou menos importantes da própria vida (por ex. o anel
de noivado, o que lembra o nascimento de um filho, ou a lembrança de um momento
especial da própria vida!, etc.) e existe a aliança de casamento, a qual,
embora seja de formato modesto, encerra o significado mais rico: o pacto
nupcial.
Esta medalha podemos considera‑la como o sinal
da acolhida recíproca e pertença do discípulo à Mãe, expressa por meio da
"Consagração".
Neste opúsculo ilustrativo não é possível aprofundar o
simbolismo desta medalha cuja síntese e centro é o coração. A palavra
"coração" ‑ como escreveu J. Guitton ‑ é uma das mais
sintéticas que conhecemos, porque encerra no sinal que ilustra, um evangelho
palpitante, a essência do cristianismo sintetizada por S. João no axioma: "Deus
é amor".
O símbolo dos dois Corações estreitamente unidos,
quase ligados por uma coroa de espinhos, no verso da medalha, ambos circundados
pelas chamas, fazem alusão a uma simbologia muito freqüente depois de São João
Eudes.
A piedade católica associa com freqüência o amor do
Filho e o amor da Mãe.
A união de Jesus e de Maria em um só Coração já tinha
sido ensinada por São João Eudes.
Existe um único sacrifício salvífico: o de Cristo,
acolhido e vivido plenamente pelo Imaculado Coração de Maria.
Por isso Maria disse varias vezes à Irmã Clara que o
seu sacrifício é um único sacrifício com o de Jesus.
"Jesus e Maria eu vos amo, salvai todas as
almas!" é a invocação que proclama a
unidade de um amor solidário que nos salvou por compaixão.
Esta jaculatória não deve significar para quem a
recita apenas uma expressão de amor que abraça duas pessoas ao mesmo tempo,
mas, muito mais, uma inserção na relação de amor destas duas pessoas, o que
eqüivale dizer: Jesus, eu te amo com o amor de Maria; Maria eu te amo com o
amor de Jesus.
A escrita em forma oval ao redor de sua pessoa: "Minha
Mãe, confiança e esperança, a Ti me entrego e me abandono" encerra os
elementos essenciais de toda Consagração mariana.
Alem do que a expressão: "a Ti me entrego e me
abandono" significa que o nosso radicar‑se em Maria torna
possível, como aconteceu para Ela, a fé confiante, perdurável, e o abandono
total em Cristo, único Salvador, assim como só n'Ele, por Ele e com Ele e
possível o nosso abandono no Pai.
1) A Consagração constitui um evento singular de graça
do nosso século. Consiste em uma relação de pertença a Maria ultimado na
acolhida plena e total da vida de Cristo em nós.
2) Tem seu fundamento na maternidade universal de
Maria, acolhida conscientemente e vivida responsavelmente na vida de cada
cristão. E de natureza filial e tem seu fundamento bíblico em João 19, 26‑27.
1 ) É um "sinal" que lembra a importância da
Consagração a Maria: tem valor de lembrança e apelo à coerência e também
testemunho.
2) É "dom" porque expressa a aceitação, por
parte de Maria, da nossa Consagração. E ainda um sinal de gratidão que Ela
oferece à Igreja por ter‑lhe consagrado o gênero humano, como Ela mesma
havia pedido.
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[n. 149] Ó Maria, Mãe de Deus e nossa dulcíssima Mãe,
Filha predileta do Pai, Mãe admirável do Filho, Esposa fiel do Espirito Santo,
Tu es para mim Mãe espiritual, Mestra de vida e Rainha poderosa... Preenche
minha existência de alegria, de luz e de amor. Acolheste‑me em teu
Coração, onde vivo em perfeita clausura. Deus deu‑me de graça a Ti, para
que eu sentisse a necessidade de viver só para Ti, em Ti, contigo... E, para
melhor viver em Jesus, por Jesus, com Jesus, debaixo de tua ação materna,
consagro‑me e me entrego a Ti e a Ti me abandono para sempre, com a
confiança de uma criança. Sou propriedade tua; com tua ajuda empenho‑me
em desarraigar de mim tudo o que não agrada a Deus, permanecendo sob tua
materna orientação e exemplo, agindo segundo a tua vontade e a de Jesus. Assim
seja.
[n.151] O Maria, minha Mãe amabilíssima, hoje, eu me
ofereço a Ti. Consagro para sempre ao teu Imaculado Coração tudo quanto me
resta da vida, meu corpo com todas as suas fraquezas, meu coração com todos os
seus afetos e desejos, todas as orações, fadigas, amores, sofrimentos e lutas
e, de modo especial a minha morte com tudo o que a acompanhará. Tudo isso, o
minha Mãe, uno para sempre ao teu amor, às tuas lagrimas e aos teus
sofrimentos.
Mãe dulcíssima, lembra‑te desta tua pobre filha!
E se eu, vencida pelo desconforto e pela tristeza chegasse, algumas vezes, a me
esquecer de Ti, peço-Te, pelo amor que tens por Jesus, por suas chagas e pelo
seu Coração, pelo seu Sangue, que me protejas como tua filha, embora indigna.
Não me abandones até que esteja contigo na gloria do céu...
[n. 154] Entrego‑me toda a Ti, ó minha boa Mãe,
Maria Santíssima. Toma todo meu ser, toma meu coração e dá-me o teu, para que
possa receber Jesus na santa Comunhão com tuas mesmas santas disposições, com
teu respeito, com tua ternura, com tua pureza e com o teu amor. Só assim
poderei agradar a Jesus e consola‑lo por tantas irreverências.
[n. 157] Ó Maria, poderosa Senhora, mas também
ternissima Mãe, sou tua pequenina; pertenço a Ti desde a minha infância, a Ti
me entrego, em Ti confio, em Ti me abandono, certa de que acolherás meu último
respiro, para levar‑me onde estás com teu e meu Jesus. Aguardo‑Te...
Vem... Obrigada!
[n. 150] Ó Maria, eu Te saúdo, minha doce e querida
Mãe! Aceita a homenagem do meu coração de filha que professa ser todo teu e
somente teu, não desejando viver, agir e sofrer senão por Jesus, em união
contigo, repousando sempre no teu Coração, onde colocou para sempre sua morada!
Uno minhas orações deste dia às tuas quando estáveis aqui na terra e às que
continuamente elevas ao bom Deus por todas as almas; uno meu trabalho ao teu,
meu repouso ao teu, meus sofrimentos às tuas dores, meus desejos, meus
pensamentos, meus suspiros, as batidas do meu coração, minhas intenções às
tuas. Aceita o boa Mãe, todo o meu ser; une‑o a Ti e depois, com tuas
puríssimas mãos, oferece‑o a Jesus, pedindo que se digne unir minha
pequenez aos teus méritos infinitos e purificar com seu Sangue precioso, para
oferece‑lo ao eterno Pai para o bem de sua Igreja, pelo Santo Padre, por
todos os sacerdotes e consagrados, por todos os irmãos pecadores, a fim de que
venha logo o Reino de Deus sobre toda a terra. Amem.
* * *
(1) A figura desta Irmã clarissa pode ser conhecida,
embora parcialmente, através da leitura de duas publicações: "Irmã Clara
Scarabelli - Ícone puríssima da Virgem Maria", aos cuidados de Mons. Luigi
Molinari, e "O Fogo do Amor", aos cuidados de Frei Alessandro
Domenicale ofm.
(2) A leitura do escrito "Como passo o meu
dia", que ela mesma entregou ao seu Padre espiritual, permite-nos colher o
signo extraordinário, na aparente monotonia do cotidiano.
(3) Esta é uma expressão de humildade, pois a Virgem
lhe apareceu mais vezes.
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Tradução:
Irmã Sônia Delforno - mscs