"Coragem,
minha pequena, não temas!"
21 de Novembro 1952,
Festa da Apresentação de Maria Santíssima no Templo
Encontrava‑me em adoração diante do Santíssimo
Sacramento. Atormentava‑me um grande sofrimento: não conseguia afastar da
minha mente a imagem daquele jovem que dizia ser o anjo do Senhor. Era duas ou
três da tarde e todas as irmãs estavam nas suas celas para descanso ou para
estudo. Experimentava muita tristeza e não era capaz de rezar. Dizia comigo mesma
no coração:
"Mãe, Mãe, onde estás? Tem piedade desta tua
menina pequena, sozinha, sozinha, abandonada por todos".
Tinha vontade de chorar pelo medo de ter sido iludida
e ter enganado a todos e temia que, por isto, Jesus e Mãe me tivessem
abandonado.
Estava ajoelhada com os olhos baixos. Pouco tempo
depois percebi que me chamavam:
‑ Pequena, minha pequena!
Reconheci que a voz era da Mãe. Tive um sobressalto de
alegria, levantei os olhos, e A vi diante de mim sobre os degraus do altar,
toda rodeada de luz, vestida como nas outras duas vezes, porém ao redor da
cabeça trazia uma coroa de doze estrelas, das quais emanava uma luz
indiscritível. Desceu os degraus do altar, aproximou‑se do banco onde
estava ajoelhada, colocou sua mão direita sobre minha cabeça dizendo‑me
com muita doçura e ternura:
‑ Minha pequena, coragem, não temas!
Com um no na garganta respondi:
‑ Mãe, eu Te traí? Eu te havia prevenido que
ninguém acreditaria em mim: estraguei tua obra, perdoa-me, tem piedade de mim!
Tu sabes tudo! Mãe, me perdoastes?
Fez‑me uma caricia, dizendo‑me:
‑ Minha pequena, não temas, falo para
consolar-te. Escuta‑me. Sabes que este teu sofrimento deu tanta gloria a
Deus e ao meu Imaculado Coração que salvastes mais almas do que se tivesses
conseguido realizar o que te havia pedido. Fica tranqüila, não é por tua culpa,
mas por causa da raiva de Satanás que se serviu das criaturas para impedir a
minha obra. Porém, asseguro‑te que o meu Coração triunfará. Conserva em
segredo o que se refere à medalha! Deverás sofrer ainda, porém virá um tempo em
que o Senhor suscitará aquele que será o instrumento para realizar o que te
pedi, segundo as promessas que te fiz, para o bem de tantas almas. Acreditas em
mim, minha pequena?
‑ Sim Mãe! Tu podes tudo! Mas se tivesses
escolhido um instrumento apropriado, todos teriam acreditado e se realizaria...
A Mãe Celeste insistiu:
‑ Não digas isso, eu te escolhi porque es um
nada, para que todos compreendam que o que acontece é obra só minha. Alias,
digo‑te que se tivesse encontrado uma pessoa menor e mais pobre que tu, a
teria preferido, porque a gloria seria toda de Deus e do meu Coração, e para
ela só a humilhação e o desprezo.
‑ Obrigada, Mãe. Mas, diz‑me, onde estavas
quando eu sofria tanto, chamava-Te e não me respondias?
‑ Ó, minha pequena, quem te deu a força para
suportar, em silêncio, tudo o que aconteceu? Éramos Jesus e eu. Eu sempre a
tive no meu Coração, onde está Jesus e sempre estarei contigo. Coragem, não
temas, sou tua Mãe. Es muito pequena, sozinha não serias capaz de nada: deixa
para Mim e para Jesus. Tua missão é: oração e sacrifício.
Não
temas, ama o sofrimento e Jesus te dará todas as almas. Não te canses, continua
por este caminho. Eu estou contigo, te saúdo e te abençôo.
Colocou sua mão sobre minha cabeça, sorrindo se elevou
da terra e desapareceu na luz, deixando uma esteira atras de Si.
Deixo‑te imaginar, querido Padre, o que
aconteceu no meu coração! Um desejo de me esconder, de sofrer, de viver só para
amar Jesus e a Mãe e fazer com que todos os meus irmãos Os amem (...).
Dezembro 1952
Renovei, com mais confiança, meu ato de abandono em
Jesus e no Coração da Mãe, confiando-lhes estar pronta para sofrer tudo o que
Eles permitissem, sempre com medo de mim mesma, mas confiante na ajuda deles.
Passei todas as festas de Natal com grande serenidade
e intimidade com a querida Mãe, que me fez experimentar a doçura das carícias
do seu pequeno divino Menino Jesus (...).
20 de Janeiro 1953
O confessor continuava a insistir para que lhe
falasse. Cada vez era um tormento para mim! Também tinha medo de desobedecer.
Que fazer? O Superior me havia proibido falar, a Mãe Celeste pediu‑me
para guardar segredo até que o Senhor me tivesse mandado um instrumento
apropriado.
No dia 20 de janeiro de 1953, enquanto estava para
deitar‑me, ouvi um pequeno rumor, semelhante ao respiro de uma pessoa.
Assustada, não tinha coragem de levantar os olhos, nem de trocar a roupa para
me deitar.
Rezava com o coração invocando a ajuda de Jesus e da
Mãe. Depois decidi levantar os olhos e vi diante de mim o jovem que me falara,
em novembro. Amedrontada abaixei os olhos. Ele, então, tomou a palavra dizendo‑me:
‑ Não tenhas medo, sou o anjo do Senhor. Fico
penalizado com o teu sofrimento. Escuta‑me, falo para o teu bem. Porque
colocas tanta resistência ao ministro de Deus, não sabes que desobedeces? Deves
ser mais dócil e falar com simplicidade! Por acaso não fizestes voto de
Obediência? Venho da parte de Deus, fala, e tudo estará terminado!
Não tinha força para abrir a boca, parecia‑me
estar muda pelo medo.
Ele replicou:
‑ Vou te ensinar o que deves dizer. Pede‑lhe
perdão por teres mentido, diz que nada do que vistes e ouvistes
"daquela" é verdade, mas que foi tudo ilusão da tua parte. Confessa a
verdade, enquanto é tempo, do contrario... Não respondes nada? Pensa bem,
voltarei ainda.
Meu Padre, deixo‑lhe imaginar como me senti mal!
Tinha uma duvida: quando a querida Mãe falava comigo
sentia muita paz e alegria dentro de mim e ficava feliz, de um modo
indiscritível.
O anjo do Senhor, ao contrario, me inspirava medo,
deixando‑me atormentada: confusão, duvidas, incertezas. Não era capaz de
me retomar. Contudo, não estava disposta a falar ao confessor: alem de
experimentar certa repugnância, tinha também a proibição do Superior e da Mãe.
Enquanto lutava dentro de mim, veio‑me em mente
que um santo, do qual não me recordo o nome tinha dito: "Se a voz do
Senhor me ordenasse algo contrario à vontade do Superior, obedeceria a este porque
agindo desta forma estaria certo de não me enganar, enquanto a voz do Senhor
poderia ser ilusão".
Quanta luta dentro de mim! Seria possível que Jesus e
a Mãe me tivessem enganado?
Continuei com este tormento. Alem disso, um dia
encontrei escrito, não me lembro onde, que o demônio às vezes toma o aspecto de
anjo da luz para enganar as almas. Fiquei impressionada, mas não sabia o que
fazer.
Rezava, rezava com insistência ao Espirito Santo e a
querida Mãe Celeste para que me ajudassem.
Um dia, enquanto rezava, ocorreu‑me pedir a
concessão, para confessar‑me com um certo padre Michelangelo.
Mas, ao mesmo tempo lembrava que a Mãe do Céu dissera‑me
de manter segredo sobre o acontecido até que o Senhor enviasse um instrumento
apropriado para realizar o que Ele desejava.
Estava indecisa pensando no que responderia se o padre
que desejava chamar, me perguntasse: "A respeito do que mentistes?".
O meu refúgio sempre foi a oração.